Quais factores explicam a fraca presença das mulheres nos cargos de liderança nos partidos políticos assim como nos órgãos de soberania?

Jornalistas, deputados, representantes de partidos políticos, líderes de organizações que advogam os direitos da mulher, membros da sociedade civil e estudantes de ciências políticas acorreram a mesa redonda onde se debateu um dos assuntos mais discutidos no momento, mulher na política. O evento discutiu os factores que explicam a fraca presença de mulheres nos cargos de liderança, quer nos partidos políticos, quer nos órgãos de soberania. Lutero Simango, parlamentar e chefe da bancada do MDM, considera que o ambiente político vigente em Moçambique não permite uma participação efectiva da mulher na política por ser hostil e violento. E para Ana Rita Sithole, deputada e membro da Comissão Política da Frelimo, mostrando o seu trajecto na política, desafia as mulheres a se impor e a lutar pelas posições de liderança. “Ninguém vai dar o poder as mulheres, o poder conquista-se”, asseverou.

O evento foi realizado pelo Centro de Estudos Interdisciplinares de Comunicação (CEC) em parceria com o Departamento de Ciência Política e Administração Pública da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da UEM, subordinado ao tema ‘Mulheres na política – das ligas femininas à Presidência da República’.

Profissionais de comunicação falam de desafios da participação da mulher na cobertura eleitoral

Por:  Esmeralda Livele

A participação da mulher jornalista na cobertura eleitoral no país contínua fraca. Este é o posicionamento de mulheres jornalistas que falavam a margem da capacitação de jornalistas em cobertura eleitoral na última terça-feira em Bilene, província de Gaza.

Segundo Joana Macia, jornalista do Jornal Notícias a situação resulta da fraca presença da mulher no jornalismo.

“Na comunicação social tem muitas mulheres mas no jornalismo é onde há problemas”, disse Macia em entrevista ao Mídia femme.

Para Joana, a cobertura eleitoral é o momento mais alto do profissional do jornalismo, e por isso tem sido muito disputada, facto que faz com que só os mais fortes consigam participar do processo.

A nossa interlocutora afirma que a mulher tem que mostrar disponibilidade e capacidade para fazer o trabalho no terreno porque isso é que irá fazer a diferença no seu trabalho.

“Já participei em duas coberturas eleitorais presidenciais e consegui fazer um bom trabalho, tive de estar fora de casa por 45 dias mas consegui participar activamente”, disse.

A jornalista conta que quando entrou para redacção trabalhou para sociedade e mais tarde é que passou para secção política.

“A categoria política em qualquer redacção é muito privilegiada, é da elite. Quando entras para uma redacção sempre mandam-te para categorias como sociedade, mulher ou criança”, esclareceu.

Macia conta que entrou para política de forma tímida escrevendo assuntos sociais ligados a política.

“ Eu escutava ordem do dia pelo rádio, que é uma sessão que antecede o parlamento onde os deputados falam dos problemas que tem nos seus círculos eleitorais e assim fazia minha notícia,” explicou, acrescentando que foram esses trabalhos que chamaram atenção ao seu chefe de redacção que passou atribuir-lhe trabalhos ligados à política.

Tal como Macia, Jacinta Nhamitambo, jornalista e locutora da Rádio Moçambique teve sua iniciação na redacção em assuntos de sociedade e passou para a política através de incentivo dentro da redacção.

“Um dia o meu chefe disse que eu tinha que passar a fazer matérias sobre política, estranhei, suspeitei até que fosse uma forma de me colocar fora da redacção” revelou Jacinta, explicando que aceitou o desafio e que apartir daquele dia passou a trabalha com assuntos políticos.

 Segundo Jacinta o desafio actual para mulher nos órgãos de comunicação é ocupar o lugar de jornalista.

“A maioria das mulheres que temos nos órgãos de comunicação actualmente está como apresentadoras, locutoras e outras áreas que não seja o jornalismo”, afirmou.

A jornalista e locutora da RM disse que a fraca presença da mulher na política e em cargos de liderança foi uma das coisas que incentivo-lhe a escrever sobre a política.

“Naquela altura não tínhamos governadoras nem ministras, então eu me questionei porque não incentivar a mulher a participar lado a lado com o homem na política”, esclareceu.

Jacinta defende que a mulher deve estar presente lado a lado do homem no terreno, pois esta é a forma de envolver mais mulheres na profissão.

A formação de jornalistas em cobertura eleitoral durou três dias, e foi organizado pelo Sindicato Nacional de Jornalistas em parceria com o MISA. 

A capacitação abrangeu 40 jornalista de diversos órgãos de comunicação do país dos quais apenas nove eram mulheres.

Cidadãos ignoram lei e submetem raparigas ao trabalho infantil doméstico

Por: Esmeralda Livele

O trabalho doméstico, é uma das actividades que retrata o trabalho infantil na cidade de Maputo e afecta em grande número as raparigas, maioritariamente provenientes de zonas rurais. Em Moçambique o trabalho infantil constitui ainda uma das piores formas de violação dos direitos da criança.

Dércia é o nome fictício da rapariga de 16 anos de idade, que trabalha como doméstica há três anos em Maputo. Ela representa um milhão de crianças e adolescentes que vêem seus direitos violados segundo estatísticas do Unicef.

Natural de Gaza, chegou a Maputo com 13 anos de idade para trabalhar como babá de uma criança, numa negociação intermediada pelos pais com um casal de jovens no bairro do Benfica.Segundo conta Dércia, o combinado era que o casal garantisse continuidade dos seus estudos, e uma cesta básica mensal para sua família, promessa que nunca foi cumprida.

“Ela trabalhava e eu ficava com a criança em casa, mas dizia sempre que eu voltaria para escola quando a criança entrasse para escolinha, mas isso não aconteceu”, explicou a adolescente. Três anos depois, Dércia abandonou o casal e com ajuda de uma amiga, também na mesma actividade conseguiu seu actual emprego.

A adolescente afirma ter uma jornada longa de trabalho, que inicia as cinco quando os patrões saem para o trabalho, e só termina quando todos vão dormir. “Eu faço tudo, cuido das crianças da casa e cozinho porque eles saem cedo e voltam tarde. Não vou a escola, mas tenho salário de 2500 meticais mensal e consigo ajudar minha família”, disse.

Apesar do desejo de continuar com os estudos, a adolescente diz não ter possibilidade de voltar a escola, pois tem responsabilidades com sua família. Catarina Mavota, uma jovem que tem como secretária uma menor de 15 anos de idade, reconhece que empregou uma criança, mas afirma desconhecer as implicações deste acto. Pelo contrário, do problema Catarina só vê vantagens. “Elas aliviam nossa correria diária, uma vez que na maioria das vezes moram connosco”, explicou.

Júlia Santos, vendedora informal, diz ter contratado a adolescente por preferência. Tal como Catarina encontrou uma solução dos seus problemas violando os direitos da criança. “Tenho filhas crescidas que fazem os trabalhos de casa, mas quase todas vão a escola, eu contratei a menina para cuidar do bebé porque trabalho”, disse. Acrescentando que nunca ouviu falar de uma lei que penalize contratação de menores para trabalho doméstico.

O trabalho doméstico, está na lista das piores formas de trabalho infantil no Plano de Acção para o Combate às Piores Formas do Trabalho Infantil, aprovado pelo Governo a 05 de Setembro de 2017 e pode ser punido com multa de cinco a dez salários mínimos segundo o decreto número 68/2017 de 1 de Dezembro no seu artigo 3.

 O decreto define piores formas de trabalho infantil o trabalho que é mental, física, social e moralmente perigoso, prejudicial para as crianças e interfere no seu desenvolvimento. No entanto, segundo apuramos o governo não tem uma lista oficial de actividades ou profissões proibidas.

Para combater esta problemática no país, várias acções têm sido levadas a cabo por diversas organizações. Do governo, esforços partem da aprovação de leis que reprimam o acto a apoio e sensibilização das comunidades a não aderirem a essa prática.

Entretanto, a nossa reportagem apurou que no Ministério do Trabalho Emprego e Segurança social entidade responsável por combater a problemática não existe um mecanismo directo neste sentido, sendo que o faz através de parcerias com organizações da sociedade civil. O Fórum da Sociedade Civil para os Direitos da Criança (ROSC) é uma das organizações que constitui o braço do governo no combate ao trabalho infantil no sector informal.

A organização tem levado a cabo várias actividades de combate ao trabalho infantil no país. Recentemente realizou em Maputo uma capacitação sobre métodos para prevenção do Trabalho Infantil em crianças e adolescentes.

Dados sobre a ocupação dos cargos de liderança no governo desmentem os pronunciamentos do presidente da Frelimo, Filipe Nyusi

Excerto: A cidade de Dondo, em Sofala, acolheu hoje a quarta sessão ordinária do conselho nacional da Organização da Mulher Moçambicana, OMM, o braço feminino do partido Frelimo. Discursando no encerramento do evento, Filipe Nyusi, na qualidade de Presidente daquele partido, disse de viva voz que “a campanha já começou e sabem que o forte da Frelimo são as mulheres”, num claro apelo para o engajamento das mulheres na corrida eleitoral de 15 de Outubro1.

O presidente da Frelimo diz que o forte do partido são as mulheres. Contudo, apesar de serem a maioria2 e da constituição da República de Moçambique garantir no seu artigo 36 a equidade e a igualdade de género, a presença equitativa da mulher na vida política, sobretudo em cargos de liderança, é ainda um desafio  para o país, visto que a maior parte dos cargos é ocupada por homens.

Em Moçambique, existe um total de 21 ministérios, e os homens estão presentes em 20, na posição de ministro ou na de vice-ministro. Apenas o Ministério da Juventude e Desportos é que tem na sua liderança mulheres. Embora tenha tido na sua composição inicial um homem como ministro, Alberto Nkutumula e uma vice-ministra, Ana Flávia Azinheira.

Ministérios em que a mulher ocupa o cargo de ministra

  • Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano;
  • Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social;
  • Ministério da Juventude e Desportos;
  • Ministério da Saúde;
  • Ministério do Género e Acção Social;
  • Ministério da Administração Estatal e Função Pública.

Baixar documento completo aqui: Dados sobre o governo da Frelimo

Mulheres Parlamentares clamam por maior inclusão nos processos de liderança

Por: Lucília de Fátima

A presidente do Gabinete da Mulher Parlamentar, Maria Marta Mateus Fernando  enalteceu neste sábado, 27 de julho o órgão que integra todas as mulheres deputadas da Assembleia da República e salientou que este fórum tem sido uma plataforma valiosa de interacção  entre deputados e um espaço de intercâmbio com os diferentes segmentos da sociedade. As actividades desta agremiação tem reforçado na advocacia, promoção e protecção da criança e da mulher. 

“Com o trabalho desenvolvido pelo Gabinete foi possível reforçar e ampliar o eco das mensagens no seio das comunidades, que resultou na redução de casos de uniões prematuras/forçadas, reduzindo deste modo as gravidezes precoces e as desistências escolares”, disse Maria Fernando.

Na ocasião, a titular das pastas daquele gabinete sublinhou que ao avaliar o impacto das acções levadas a cabo pela instituição que dirige durante os cinco anos desta legislatura procedeu-se o fortalecimento dos laços de interacção com as organizações da Sociedade Civil e parceiros de Assistência ao desenvolvimento, bem como a aprovação de importante legislação relacionada à equidade do género, protecção da mulher e da criança. 

De acordo com a Presidente da Assembleia da República, Verónica Macamo, há necessidade de se continuar a produzir leis que contribuam cada vez mais para a promoção, emancipação  e empoderamento da mulher. “Cada uma de nós tem a missão de influenciar o partido que representa para que o número de mulheres candidatas a deputadas aumente, de modo que a marcha para 50% homens e 50% mulheres seja mais séria, garantindo assim o cumprimento do compromisso assumido pelos países africanos no âmbito da equidade de género”, referiu.

Verónica avança que, a equidade de género é uma questão  de todos, pois só usando a inteligência, capacidade, sensibilidade e a força de homens e mulheres, o país pode desenvolver de forma eficaz e eficiente. Não se pode esquecer como sociedade que as mulheres são mais de 52%, se a sua capacidade, inteligência, sua força  e sensibilidade não estiver sendo usada, quem ficará prejudicada não é a mulher, é a sociedade. “Se agirmos de forma correcta e integrarmos de forma equitativa homens e mulheres, o vencedor será a sociedade.  

A presidente da Assembleia da República entende que há necessidade de continuar a interagir com todos actores sociais que lidam com a causa da mulher em particular as instituições do governo, organizações femininas, organizações de índole económico,  social e cultural trazendo ao legislador matéria prima valiosa para o debate e consequente produção de leis. 

“Para o caso da rapariga queremos continuar a garantir mecanismos de protecção para evitar a gravidez prematura”, destacou a parlamentar. 

Por seu turno, Rita Sithole,  Deputada e membro do Gabinete da Mulher Parlamentar enfatizou que  durante a oitava legislatura houve um esforço duplo da mulher parlamentar envolvida nos seus grupos parlamentares. “Não estaríamos aqui sem as nossas lideranças femininas dos partidos, não  teríamos conseguido durante cinco anos seguidos estar bem e ter resistido a natureza que é a vida sem este backup dos partidos políticos”, concluiu.. 

 O Gabinete da Mulher Parlamentar foi criado pela resolução n 35/2005 de 19 de Dezembro, com  efeito através da resolução n˚1/2007 de 28 de Junho.

Falhas e efeitos colaterais de contraceptivos provocam desistência por parte de algumas mulheres

Elisa Chongo, 40 anos de idade, é comerciante no Mercado Grossista do Zimpeto, tem cinco filhos mas diz que pretendia ter apenas quatro dai que em 2016 aderiu ao planeamento familiar e escolheu o implante para se prevenir da gravidez, dias depois da colocação do implante teve uma pequena hemorragia, o que não constituiu nenhum problema pois já tinha sido avisada sobre os efeitos colaterais daquele método contraceptivo.  Passados noventa dias, descobre gravidez de um mês ou seja, o método falhou foi por isso que fora dos seus planos teve o quinto filho.

“Passei a não confiar nos métodos contraceptivos, actualmente estou a usar a injecção mas não estou muito segura” afirma Elisa

Outra mulher que mostrou insatisfação com os métodos contraceptivos, é uma jovem estudante de 26 anos, que prefere não ser identificada mas vamos chama-la de Lídia. Ela conta que há dois anos usava implante mas devido a emagrecimento e hemorragia constante preferiu substituir o método pela injecção.

” Um mês depois de tomar a injecção tive hemorragia, voltei ao posto de saúde onde deram medicação para estancar, mas virou algo constante, talvez porque dizem por ai que a injecção e o implante tem mesmos efeitos colaterais então acredito que os dois métodos não me caiam bem.”

A próxima injecção da Lídia foi marcada para Agosto mas não pretende voltar porque teme que as constantes perdas de sangue lhe provoquem anemia.

Elisa e Lídia fazem parte de um grande grupo de mulheres insatisfeitas com os efeitos colaterais de alguns contraceptivos e optaram em desistir dos métodos.

De acordo com Joelma Picardo, pesquisadora do Centro Internacional de Saúde Reprodutiva (ICRH), todos os métodos contraceptivos tem efeitos colaterais como qualquer tipo de medicamento, uns são mais visíveis e outros não. Portanto, o que deve ser enfatizado é que toda e qualquer mulher que queira aderir aos métodos deve ter informação sobre os benefícios e seus efeitos colaterais, que podem ser sangramento, emagrecimento, excesso de peso entre outros, para que caso aconteça não seja uma surpresa.

“Algumas mulheres ouvem rumores de pessoas conhecidas que tiveram experiências negativas com alguns métodos contraceptivos e quando e assim, elas desistem do método. O que se quer é que o Serviço Nacional de Saúde e as enfermeiras em particular expliquem que com medicação é possível corrigir esses efeitos adversos e sensibilizar a mulher a continuar a usar o método porque os benefícios são maiores que os prejuízos então é preciso sempre contrabalançar” concluiu a pesquiadora do ICRH.

Homens são excluídos no Planeamento Familiar

Por: Esmeralda Livele

Os homens continuam à margem da oferta e disponibilização dos serviços de planeamento familiar em Moçambique.

É o que revela o livro sobre Planeamento Familiar e Políticas de Saúde Sexual e Reprodutiva em Moçambique, publicado esta terça feira (23 de Julho) em Maputo, pelo Centro de Pesquisa em População e Saúde (Cepsa) em parceria com o Centro Internacional para Saúde Reprodutiva (ICRH).

Joelma Picardo, pesquisadora e uma das autoras do livro, contribuiu com uma abordagem exclusivamente masculina sobre o Planeamento familiar, e afirma que os homens têm um papel fulcral na adesão a estes serviços.

“No final do dia a decisão da mulher em aceitar ou não um método depende muito da negociação que tem com o marido”, disse acrescentando que é preciso ouvir o que os homens pensam sobre o planeamento familiar.

Para Joelma, perceber o planeamento familiar na perspectiva do homem foi um desafio, na medida em que constitui uma rotura de uma prática socialmente estabelecida mesmo no âmbito das pesquisas. “A maioria das pesquisas sobre saúde sexual reprodutiva são feitas por mulheres e numa abordagem feminina, poucas são as vezes que é centrada no homem”, explicou.

A nossa interlocutora acredita que a livro ora lançado é uma oportunidade de mostrar que questões de planeamento familiar e saúde reprodutiva não devem ser vistas de uma forma linear. “ Temos nesta obra participação masculina, isto é, homens que estudam o planeamento familiar”, destacou, acrescentando que é preciso combinar abordagens, e envolvermos cada vez mais o homem neste processo.

O livro mostra uma alta consciência sobre uso de anticonceptivos modernos por parte dos grupos estudados, mas com 48% dos homens e 54% das mulheres que não havia usado um método anticonceptivo na última relação.

Estimativas em 2017 apontavam que 214 milhões de mulheres em idade reprodutiva, isto é dos 15 a 49 anos ao nível dos países de média e baixa renda tem uma necessidade não satisfeita de contracepção, o que significa que, querem evitar a gravidez mas não tem acesso ou não usam os métodos de contracepção moderna. Em Moçambique, esta proporção é o dobro atingindo 23% da população.

Parlamento moçambicano aprova em definitivo o projecto Revisão da Lei da Família

Por: Lucília de Fátima

A Assembleia da República (AR) aprovou ontem em definitivo a revisão da Lei da Família por aclamação e consenso das três bancadas parlamentares. Passados mais de 10 anos de 2004 a 2019, desde a aprovação da Lei da Família (lei n 10/2004, de 25 de Agosto), as práticas e a dinâmica da sociedade moçambicana têm imposto a necessidade de uma revisão pontual deste instrumento para eliminar as disposições contrárias à Constituição da República.

Segundo a Presidente da Assembleia da República Verónica Macamo, a Lei de Família além de eliminar a excepção para o casamento de menores, mesmo quando autorizados pelos pais, trouxe a equidade entre filhos nascidos dentro e fora do lar conjugal, portanto a eliminação das sucessões que existiam  em termos de direitos, constituiu um ganho muito grande para a protecção das crianças, da mulher e não só.

Verónica Macamo explicou o facto falando durante o 67˚ dia da nona sessão ordinária da oitava legislatura, após adopção de pareceres em torno deste instrumento legal.

“Ao revermos o código civil, concretamente ao livro das sucessões, pretendemos acabar com o sofrimento duplo das mulheres viúvas, duplo porque depois de perder o seu companheiro de vida, muitas vezes é obrigada a abandonar o lar conjugal, cujo a construção conjugal foi o resultado do trabalho e esforço do casal, bem como o sofrimento das crianças que depois de perder o seu progenitor, muitas vezes ficam sem teto e sem o mínimo de condições

Foram introduzidos novos números 2 e 3, no artigo 93,

  1. A violação dos direitos conjugais por um dos conjugues, para além de outras consequências previstas por lei, pode dar lugar à responsabilidade civil pelos danos causados ao cônjuge ofendido, nos termos gerais.
  2. o pedido de indemnização poderá ser feito na constância do casamento ou cumulado com o de separação judicial de pessoas e bens ou divórcio.

Foi eliminado o artigo 140 –A e o artigo 418- A, foi revogado o n˚ 2 do artigo 177 e o artigo 211 da lei da família.

Por outro lado, a Sociedade Civil, na pessoa da Maria Paula Cruz, membro do comité de conselheiras do Fórum Mulher e antiga presidente do mesmo.

Maria reconhece que o processo todo que ditou a aprovação da revisão da lei da família, a lei de sucessões e aprovação da lei de combate e prevenção às uniões prematuras, “para nós como sociedade civil no geral, mas como mulheres  em particular, estamos com um sentimento de missão cumprida no sentido de encontrar uma forma de nos unirmos todas, porque as mulheres parlamentares, as comissões visadas também deram um grande contributo, foram momentos que muitas vezes puseram-nos em conflitos, porque não é fácil aprovar leis como estas numa sociedade que tem como forma de vida o patriarcado

Para Maria, é sinal que a sociedade moçambicana esta a colocar acima de tudo os direitos humanos, porque é sabido que apesar de serem raparigas e mulheres tem direitos, naturalmente que esta situação punha sobretudo  as raparigas na questão das uniões forcadas, bem como numa situação desvantajosa, porque muito cedo tinham de assumir-se como adultas, ter responsabilidades, ter filhos, mas tudo de forma precoce. O país estava a perder estas grandes mulheres, grandes profissionais, grandes líderes, porque muito cedo elas tinham de desistir da escola para assumir responsabilidades.

A Sociedade Civil considera que a  AR está de parabéns, porque no fim da historia, é a AR que também assumiu a sua responsabilidade de trazer para a sociedade a Justiça, a valorização das mulheres e tudo aquilo que engrandece o pais, mas ainda há  muito trabalho pela frente, porque tem sido  norma aprovar boas leis, e se pensar que atingiu-se  o limite, não basta ter as leis, tem de se  regulamenta-las, divulga-las e leva-las como um modo de vida nosso.

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