Análise da Cobertura da Campanha Eleitoral – II Edição

Tendência da cobertura dos media na segunda semana da campanha eleitoral de 2019

Como forma de garantir uma cobertura profissional da campanha eleitoral, que permita aos cidadãos eleitores formularem opiniões de qualidade (e não deturpadas) sobre as actividades de campanha dos candidatos, o Sindicato Nacional dos Jornalistas, o MISA-Moçambique e o Centro de Estudos Interdisciplinares de Comunicação (CEC) têm vindo a fazer a monitoria da cobertura dos media no processo eleitoral de 20191.

Este boletim, na sua segunda edição, oferece o resumo dos resultados da cobertura dos principais meios de comunicação social ao longo da segunda semana da campanha eleitoral, de 07 a 13 de Setembro de 2019. O resumo dos resultados mostra a tendência da cobertura dos meios analisados, ao longo da semana da campanha, considerando as principais variáveis definidas para a análise de conteúdo: o tempo/ espaço dedicado a cada partido político e a orientação/ tom da cobertura aos candidatos.

“A mulher não pode ser surpreendida no Plano Quinquenal do Governo”

A tese foi defendida na última quinta-feira (03) de Outubro em Maputo, por Quitéria Guirengane membro do partido Nova Democracia durante a mesa-redonda que juntou representantes das ligas femininas dos partidos políticos, nomeadamente Frelimo, Renamo, Movimento Democrático de Moçambique e Nova Democracia, para discutir o papel das ligas partidárias na inclusão do género nos manifestos eleitorais.

 A tese da Guirengane surge para rebater a ideia defendida pela representante do partido Frelimo na mesa-redonda Esmeralda Muthemba segundo a qual “ninguém devia esperar detalhes sobre a execução das promessas as mulheres contidas no manifesto uma vez que tal cabia ao Plano Quinquenal do Governo”, em reacção aos questionamentos da audiência sobre a falta de clareza nos manifestos sobre como as promessas seriam cumpridas. 

“ Não esperem ver números, quanto vamos fazer e onde faremos, não se faz isso no manifesto” disse Muthemba, para depois acrescentar que quem for colocar números e detalhes de execução das promessas no manifesto é “falhado”. 

Entretanto segundo Guirengane, os partidos políticos devem ser capazes de dizer ao cidadão de forma escrita ou clara qual é o compromisso que assume para com o cidadão para que este possa monitorar e sancionar.

“O cidadão não pode ser surpreendido no Plano Quinquenal do Governo ou depois de eu entrar no parlamento” declarou a membro e cabeça de lista a deputada na cidade de Maputo pela Nova Democracia.

Para nossa entrevistada “é possível sim através de um diagnóstico situacional do contexto saber por exemplo qual é a situação do acesso água, um problema que afecta as mulheres e explicar nos nossos manifestos como é que vamos fazer para que a situação saia de 55 para 70 porcento”, concluiu.

Por seu turno, a representante do Fórum Mulher Witney Sabino assumiu ser difícil trazer números sobre coisas efectivas que os partidos prometem fazer nos seus manifestos, porém adverte que é possível ter por exemplo o número exacto da representatividade de mulheres na Assembleia da República e governos provinciais, que segundo ela mostra que as mulheres não têm 50 porcento de representatividade.

“Penso que são esses números que importa fazer menção, que reflectem o machismo e patriarcado”, disse. 

Uma pesquisa do Centro de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, CEC, mostra que a tendência de falta de equidade de género na ocupação de cargos alastra-se até aos governos distritais.

Casos ilustrativos da falta de equidade de género em termos de representatividade na ocupação de cargos na política demonstrados na pesquisa são as províncias de Cabo-Delgado, Tete e Sofala. Onde a Província de Cabo-Delgado tem 16 distritos dos quais 14 são administrados por homens e 2 por mulheres.

A província de Tete também apresenta duas mulheres a ocuparem o mesmo cargo contra 10 distritos administrados por homens, num universo de 12 distritos. O caso mais crítico pode ser visto na província de Sofala, 12 distritos são liderados por homens e apenas 1 por uma mulher.

Voto consciente

 O projecto voto consciente é um mecanismo que vem referenciar a importância de um voto tomado a partir de informações previamente analisadas. Que apontem ao eleitor que a sua escolha deve ser feita sabendo de antemão que o candidato a quem votar está mais apto a atender e responder às necessidades da população. Trata-se, igualmente, de um voto livre: O acto de votar com consciência centra-se prioritariamente na colectividade em detrimento de vantagens pessoais. 

Dessa forma, um voto consciente é feito com a consciência de que foi feita uma escolha adequada. Você deve ser capaz de dizer: com um conhecimento adequado sobre os candidatos em questão, escolhi aquele que acredito estar mais apto a gerir o património e o interesse públicos.

Análise da Cobertura da Campanha Eleitoral – I Edição

O Sindicato Nacional dos Jornalistas; o MISA-Moçambique e o Centro de Estudos Interdisciplinares de Comunicação (CEC) têm vindo a promover um conjunto de actividades como forma de garantir uma cobertura profissional da campanha eleitoral e que permita aos cidadãos eleitores formularem opiniões de qualidade (e não deturbadas) sobre as actividades de campanha dos candidatos.

Para além das formações realizadas, a mais de 120 jornalistas a nível nacional; o MISA e o SNJ, com o apoio do Instituto Eleitoral para a Democracia Sustentável em África, promoveram a revisão e uma ampla divulgação do código de conduta na cobertura eleitoral.

O SNJ, MISA e CEC instalaram um gabinete de monitoria da cobertura eleitoral de 2019, que está a avaliar o nível de profissionalismo e a tendência dos jornais na cobertura das actividades dos partidos políticos e dos candidatos. A monitoria está a ser feita a partir de um quadro de mais de 18 variáveis de análise de conteúdo, baseadas nos padrões profissionais, no Código de Deontologia Profissional e no Código de Conduta na Cobertura Eleitoral. Leia mais no documento abaixo.

Ministério da Defesa Nacional aprova o Plano de Acção Sobre Mulheres Paz e Segurança

Por: Lucília de Fátima 

O governo de Moçambique aprovou o primeiro Plano de Acção sobre Mulheres, Paz e Segurança de 2018 a 2022, que visa criar um ambiente favorável para a implementação da legislação sobre Mulheres Paz e Segurança a integrar a perspectiva do Género em todas acções e estratégias de prevenção, mitigação e resolução de conflitos. Por seu turno o Ministério da Defesa Nacional aderiu oficialmente no dia 31 de Agosto o referido plano. 

Patrício José, vice-ministro da Defesa Nacional, afirma que a  política de género e estratégia de sua implementação aprovada em 2006 pelo Governo preconiza a promoção da formação da mulher na área de defesa e segurança, para garantir a sua participação nas estruturas de tomada de decisão, nos processos de paz e segurança. “Neste quadro o Governo de Moçambique reafirma o seu compromisso para a eliminação de desigualdades baseadas no género, através da adopção e implementação de diferentes instrumentos nacionais e internacionais”, disse. 

Marie Laetitia Kayisire, representante da ONU Mulheres em Moçambique ressaltou que  esta ferramenta é lançada com vista a desafiar o actual contexto global de paz e segurança caracterizado por novas ameaças, desde desastres naturais, extremismos, conflitos violentos e prolongados, crises humanitárias, tráfico de seres humanos e refugiados sem precedentes.

Para Kayisire, deve-se garantir a participação das mulheres nas estruturas de tomada de decisão no processo de paz e segurança e promover mecanismos para assegurar maioritariamente a promoção de mulheres nos órgãos de defesa, segurança e justiça.  

A participação das mulheres no processo da paz e segurança fortalece os esforços da protecção das forças da paz e acelera a recuperação sócio económica. As mulheres nos órgãos de paz e segurança contribuem para resolver questões críticas. “As evidências mostram que como as mulheres nas forças da paz e segurança são vistas como  menos ameaçadoras e menos acessíveis em relação aos homens”. 

Kayisire acredita que, a presença das Mulheres pode ajudar a reduzir conflitos e confrontos em incidência de abuso e exploração sexual e incentivar denúncias de qualquer abuso que possa decorrer, no entanto a percentagem de representação das mulheres nas forças militares e policiais permanece baixa. 

Maria Chipanda, directora nacional dos Recursos Humanos da Defesa Nacional afirma que este instrumento visa reforçar as acções do governo, na promoção dos direitos humanos, equidade de género no sector da defesa e segurança, como parte integrante deste processo e em especial para o sector da Defesa Nacional. 

“O plano aqui apresentado integra acções prioritárias a serem implementadas, especificamente  promoção da paz e segurança no território nacional, igualdade de Género, Protecção e Empoderamento das Mulheres”, afirma Chipanda 

Moçambique ratificou instrumentos internacionais nomeadamente a Convenção Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, a Declaração de Beijing, A Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos relativa aos Direitos das Mulheres em África, os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, o Protocolo da SADC sobre Género e a Resolução  1325 do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A Resolução 1325 apela à necessidade da participação das mulheres nas matérias relacionadas à paz e segurança desde o nível da tomada de decisão, à construção de mecanismos de prevenção, gestão e resolução de conflitos.

Revista Comunicação & Sociedade 2017

Integrante do MediaFemme é reconhecida pelo Protocolo de Género da SADC como uma das activistas mais destacadas de Moçambique

Lucília de Fátima,  defensora dos Direitos Humanos e activista social e jornalista do MediaFemme venceu o terceiro Prémio na categoria de Juventude em matéria de Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos (SRHR), onde representou a Associação Juvenil Kubatsira, tendo recebido o Certificado de Reconhecimento através das mãos do Edil de Quelimane, Manuel de Araújo.

Para Lucília foi um ganho participar nesta cimeira e ter sido reconhecida como uma das mais destacadas activistas de Moçambique no que concerne aos esforços extraordinários na defesa do Protocolo de Género da SADC pós  2015 e Objectivos de Desenvolvimento Sustentável. 

“Nós Jovens  continuaremos firmes  na defesa dos Direitos Humanos. Foi um enorme desafio fazer campanhas e promoção dos Direitos Humanos, principalmente dos Direitos das Raparigas e Mulheres em diferentes pontos do país em matérias de Combate e Prevenção das  Uniões Prematuras, Gravidez Precoce, bem como a Promoção da Equidade de Género, a luta continua” disse Lucília. 

Lucília foi reconhecida no âmbito da Cimeira Nacional de Boas Práticas sobre a implementação do Protocolo da SADC sobre Género e Desenvolvimento Pós 2015 no âmbito da Saúde Sexual e Direitos Reprodutivos e Combate a Uniões prematuras. 

Participaram,  do evento organizado pela Gender Links 26 das 53 autarquias existentes no país, diversas organizações da Sociedade Civil, membros do governo, e as empreendedoras beneficiárias do programa de empoderamento da Gender Links, denominado Sunraise Campaign.

Quarenta jornalistas da zona centro beneficiam de formação sobre cobertura eleitoral

A formação, que reúne quarenta jornalistas de diferentes órgãos de comunicação social das províncias de Tete, Manica e Sofala, faz parte de um ciclo de seminários que iniciou na região sul no passado dia 12. O seminário sobre cobertura eleitoral decorre na cidade da Beira desde sábado (17) e termina hoje segunda-feira 19.

Organizado pelo Instituto de Comunicação Social da África Austral – Capítulo Moçambicano (MISA-Moçambique), em parceria com Instituto Eleitoral para a Democracia Sustentável em África (EISA), Moçambique, Centro de Estudos Interdisciplinares de Comunicação, (CEC) e o Sindicado Nacional de Jornalista (SNJ), a formação deverá abranger 120 jornalistas em todo país.

Durante a formação, são discutidos temas como o quadro legal para a realização das Eleições Gerais e para as Assembleias Provinciais de 2019, desafios para uma cobertura de qualidade e isenta no processo eleitoral, tendo em conta o Código de Conduta de Cobertura Eleitoral; manipulação de informação (#Fakenews) em processos eleitorais, para além do tema sobre a integração do género na cobertura de processos eleitorais.

Quais factores explicam a fraca presença das mulheres nos cargos de liderança nos partidos políticos assim como nos órgãos de soberania?

Jornalistas, deputados, representantes de partidos políticos, líderes de organizações que advogam os direitos da mulher, membros da sociedade civil e estudantes de ciências políticas acorreram a mesa redonda onde se debateu um dos assuntos mais discutidos no momento, mulher na política. O evento discutiu os factores que explicam a fraca presença de mulheres nos cargos de liderança, quer nos partidos políticos, quer nos órgãos de soberania. Lutero Simango, parlamentar e chefe da bancada do MDM, considera que o ambiente político vigente em Moçambique não permite uma participação efectiva da mulher na política por ser hostil e violento. E para Ana Rita Sithole, deputada e membro da Comissão Política da Frelimo, mostrando o seu trajecto na política, desafia as mulheres a se impor e a lutar pelas posições de liderança. “Ninguém vai dar o poder as mulheres, o poder conquista-se”, asseverou.

O evento foi realizado pelo Centro de Estudos Interdisciplinares de Comunicação (CEC) em parceria com o Departamento de Ciência Política e Administração Pública da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da UEM, subordinado ao tema ‘Mulheres na política – das ligas femininas à Presidência da República’.

Profissionais de comunicação falam de desafios da participação da mulher na cobertura eleitoral

Por:  Esmeralda Livele

A participação da mulher jornalista na cobertura eleitoral no país contínua fraca. Este é o posicionamento de mulheres jornalistas que falavam a margem da capacitação de jornalistas em cobertura eleitoral na última terça-feira em Bilene, província de Gaza.

Segundo Joana Macia, jornalista do Jornal Notícias a situação resulta da fraca presença da mulher no jornalismo.

“Na comunicação social tem muitas mulheres mas no jornalismo é onde há problemas”, disse Macia em entrevista ao Mídia femme.

Para Joana, a cobertura eleitoral é o momento mais alto do profissional do jornalismo, e por isso tem sido muito disputada, facto que faz com que só os mais fortes consigam participar do processo.

A nossa interlocutora afirma que a mulher tem que mostrar disponibilidade e capacidade para fazer o trabalho no terreno porque isso é que irá fazer a diferença no seu trabalho.

“Já participei em duas coberturas eleitorais presidenciais e consegui fazer um bom trabalho, tive de estar fora de casa por 45 dias mas consegui participar activamente”, disse.

A jornalista conta que quando entrou para redacção trabalhou para sociedade e mais tarde é que passou para secção política.

“A categoria política em qualquer redacção é muito privilegiada, é da elite. Quando entras para uma redacção sempre mandam-te para categorias como sociedade, mulher ou criança”, esclareceu.

Macia conta que entrou para política de forma tímida escrevendo assuntos sociais ligados a política.

“ Eu escutava ordem do dia pelo rádio, que é uma sessão que antecede o parlamento onde os deputados falam dos problemas que tem nos seus círculos eleitorais e assim fazia minha notícia,” explicou, acrescentando que foram esses trabalhos que chamaram atenção ao seu chefe de redacção que passou atribuir-lhe trabalhos ligados à política.

Tal como Macia, Jacinta Nhamitambo, jornalista e locutora da Rádio Moçambique teve sua iniciação na redacção em assuntos de sociedade e passou para a política através de incentivo dentro da redacção.

“Um dia o meu chefe disse que eu tinha que passar a fazer matérias sobre política, estranhei, suspeitei até que fosse uma forma de me colocar fora da redacção” revelou Jacinta, explicando que aceitou o desafio e que apartir daquele dia passou a trabalha com assuntos políticos.

 Segundo Jacinta o desafio actual para mulher nos órgãos de comunicação é ocupar o lugar de jornalista.

“A maioria das mulheres que temos nos órgãos de comunicação actualmente está como apresentadoras, locutoras e outras áreas que não seja o jornalismo”, afirmou.

A jornalista e locutora da RM disse que a fraca presença da mulher na política e em cargos de liderança foi uma das coisas que incentivo-lhe a escrever sobre a política.

“Naquela altura não tínhamos governadoras nem ministras, então eu me questionei porque não incentivar a mulher a participar lado a lado com o homem na política”, esclareceu.

Jacinta defende que a mulher deve estar presente lado a lado do homem no terreno, pois esta é a forma de envolver mais mulheres na profissão.

A formação de jornalistas em cobertura eleitoral durou três dias, e foi organizado pelo Sindicato Nacional de Jornalistas em parceria com o MISA. 

A capacitação abrangeu 40 jornalista de diversos órgãos de comunicação do país dos quais apenas nove eram mulheres.

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