Mulheres casadas e com filhos pequenos também podem trabalhar

Há dias, um amigo sensível às questões de género veio pedir ajuda para o preenchimento de uma vaga na sua organização. Ele estava muito claro acerca do perfil da ocupante do posto: 

  1. Mulher.
  2. Solteira.
  3. Sem filhos pequenos.

Ele estava convicto de que estava a promover a equidade de género e que eu adoraria a ideia. Mas aí está, ele como outr@s podemos cair nalguns vieses da promoção da equidade de género e esquecermos o essencial. Que é colocarmos uma mulher e mantermos a estrutura discriminatória baseada no género. Se você quer contratar uma mulher, contrate-a com tudo que vem junto. Não diga que quer contratar uma mulher mas a pensar no perfil de um homem. Não diga que está a defender o respeito pelos direitos das mulheres ao mesmo tempo que impõe condições desfavoráveis para as mulheres concorrerem para o posto.

As duas exigências, condicionalismos que vêm atrelados a preferência em mulheres mostram que ele está consciente dos factores ou particularidades referentes à vida das mulheres e que podem afectar o seu desempenho no trabalho. Mas ao invés de os reconhecer e procurar mecanismos para mitigá-los ele prefere distanciar-se deles.

  1. a) Ser solteira. Ele sabe que na cultura em que ele está e ele mesmo é reprodutor e produtor há papéis e expectativas sociais que poderiam impedir que a sua subordinada estivesse disponível para atender as suas chamadas fora dos horários normais de expediente e que os seus fins-de-semana estariam ocupados com assuntos sociais. Não quer uma funcionária que tenha de negociar com o marido sempre que tiver de trabalhar fora do horário normal de expediente e fora das condições habituais. Uma mulher que possa ser informada 2 dias ou no próprio dia de que terá de viajar. 
  1. b) Sem filhos pequenos. As mulheres são na sua maioria as responsáveis pelas crianças. Ou seja, se a criança estiver doente quem terá de levá-la ao hospital será a mãe. E quando as crianças são pequenas, ainda sem o sistema imunológico  estabelecido, caem facilmente doentes. Ele não quer ter uma subordinada que possa ter de se ausentar a meio do expediente. Uma subordinada que terá dificuldades em sair de Maputo porque teria de deixar as crianças.

Os dois aspectos comuns na vida das mulheres não se fazem sentir com mesma intensidade na vida dos homens, a tal ponto que não são considerados para a sua afectação. O meu amigo se quisesse contratar um homem, não teria colocado as exigências que colocou para a contratação de mulheres. Quando falamos de discriminação baseada no género referimo-nos exactamente a estes critérios de selecção que limitam as oportunidades das mulheres no mercado de trabalho. A um homem ele não teria dito, solteiro e sem filhos pequenos. 

A equidade de género promove a criação de estruturas laborais que criem e incentivem a inserção das mulheres em todas as áreas de seu interesse. A minha pergunta para o meu amigo seria: que condições estariam criadas ou você poderia criar para ter uma mulher com filhos pequenos a trabalhar para a sua organização? Que tipo de negociação, abertura, condições você criaria para poder ter uma mulher casada a trabalhar para a sua organização, já que você considera que tem alguns aspectos do matrimónio que minariam o alcance dos objectivos organizacionais tendo uma mulher casada na sua organização?

Defendemos a igualdade de oportunidades. Este exemplo foi elucidativo dos factores que explicam a preferência em homens. O mais impressionante é que um deles é um factor biológico. Não pode ser mudado. Nalgum momento, as mulheres têm filhos…pequenos. Tem empresas que exigem das mulheres que aceitem um prazo de 2 anos na empresa sem engravidar. A sua maternidade fica condicionada ao emprego. O seu patrão é que decide quando é que ela pode engravidar.  O mesmo não é exigido aos homens. Um homem não será discriminado por ter engravidado a sua esposa ou ter filhos pequenos, mas a sua esposa o será.

Ser sensível às questões de poder que permeiam as relações entre mulheres e homens é já um ótimo início para a mudança, mas não é suficiente. Temos de agir, eliminar as barreiras que nos impedem de contratar mulheres. Quando digo mulheres, refiro-me a perceber e reconhecer todas as particularidades que esse papel social encerra e criar ambientes que permitam que a mulher na sua plenitude possa dar o seu contributo laboral. A escolha de ser mãe não pode ser do patrão. A escolha do seu estado matrimonial não pode pertencer ao seu futuro empregador. A mulher tem de ser o que ela quiser e quando ela quiser.

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