Rotina de trabalho dificulta a entrada de mulheres à carreira de motorista nos EMTPM

Por Esmeralda Livele

Nos últimos anos é comum ver mulheres ao volante, porém poucas são as que fazem desta actividade uma profissão.

Na Empresa Municipal de Transportes Rodoviários de Maputo (EMTPM)  existem actualmente 588 trabalhadores. Deste número, apenas 66 são mulheres e 522 homens, de acordo com dados facultados pela empresa. 

A contratação de mulher ainda é fraca, segundo constatamos nos números na EMTPM mostra-se desigual no sector da condução onde existem apenas cinco mulheres motoristas, dos 35 condutores que se fazem à estrada por dia.

Segundo Estevão Nhantumbo, chefe interino dos recursos humanos da EMTPM o número reduzido de mulheres naquela empresa deve-se as desistências por parte das mulheres resultantes da dura rotina de trabalho em que a empresa opera.

“Os nossos horários são pesados, os transportes saem da empresa as 4 horas o que significa que o carro da recolha tem que chegar as 3:50 e isso é difícil”, explicou.

O sector da cobrança é o que a participação da mulher é encorajadora, onde de um total de 138 cobradores 22 são mulheres, e segundo explicou Nhantumbo o facto acontece porque a tarefa de cobradora exige menos esforço.

“As cobradoras não fazem muito esforço que as motoristas, elas ficam nas cabinas apenas para receber o dinheiro e isso é que contribui para maior permanência delas”, esclareceu. O sector da mecânica por seu turno, revela-se pior em termos de representação feminina onde há apenas uma mulher. 

Embora as mulheres estejam em menor número na empresa, o director de finanças, Migueias Adriano avalia positivamente o seu desempenho. Sem avançar números, Adriano disse que “ as mulheres têm se destacado em relação aos homens nas receitas, condução defensiva e cumprimento de trajectos e horários estabelecidos para os autocarros”. 

Adriano avança ainda que dentro da empresa as mulheres ocupam também cargos de chefias. Entretanto, dados partilhados pela empresa mostram que dos 13 cargos de chefia existentes, as mulheres ocupam apenas quatro. 

O director financeiro da EMTPM, disse ainda que, é desejo da empresa elevar a participação da mulher naquela organização, por isso, está em curso a elaboração de uma política de género visando contornar a fraca participação das mulheres. 

 

 

“Mulheres devem encarar assédio sexual como problema grave”

Quem assim o diz, é a jornalista Felicidade Zunguza, numa entrevista concedida a nossa reportagem na última sexta-feira cujo objectivo era falar do assedio sexual no mercado do trabalho, em particular na media, para a jornalista a mulher deve demonstrar força, ter postura profissional para ser respeitada no local de trabalho.

De acordo com a jornalista, “o assédio sexual é constrangedor para as mulheres por isso elas têm receio de se abrir em relação a esse assunto mas, precisa-se de mulheres de coragem, as  mulheres devem encarar o assédio sexual como um problema grave, porque a partir do momento que as mulheres se calam perante essa situação, estão a permitir a continuidade deste mal.”

Para Zunguza, uma das maiores causas do silêncio das mulheres que sofrem assédio sexual no trabalho, é denunciar o perpetrador e como consequência perder emprego. Entretanto, esta profissional adverte as mulheres a deixarem o medo para trás de modo a evitar que a mulher tenha sua integridade ferida, e denunciar porque existe a lei que protege a mulher do assédio sexual e é deste instrumento legal que  a mulher deve se servir porque não há outra forma mais cabal, mais consensual para acabar com este problema,  que não seja a lei.

A jornalista com mais de 17 anos de carreira conta que num dos órgãos de comunicação social por qual passou, recebeu queixa de duas jovens, antigas trabalhadoras do local que afirmaram ter sido vítimas de assédio sexual por parte de um dos chefes, entretanto, só falaram após sua saída da instituição,  portanto não teve muito que se fazer porque não tinham nenhuma evidência e não denunciaram  a policia. Em Moçambique raras vezes ou quase nunca há julgamentos de casos dessa natureza, porque há poucas denúncias e os que denunciam, a pena para o acusado acaba por ser mínima porque as mulheres consentiram ao assédio sexual por temer perder o emprego.

Telma Cumbe, também jornalista, conta ter sofrido assédio sexual em dois órgãos de comunicação social em que passou. No primeiro órgão, o chefe para alcançar seus intentos começou a criar facilidades para que ela cedesse, contudo não cedeu porque acreditava no seu potencial, apesar de estar la como estagiária e na sua primeira experiência de trabalho e com esse posicionamento conquistou o respeito do chefe.

No segundo órgão em que sofreu o assédio sexual, esta profissional de comunicação social diz ter sofrido chantagem por parte do chefe por  recusar a ceder os seus caprichos. “ Nesse órgão, passei pelo assédio quatro anos depois, quando um colega ascendeu a chefia na redação, começou a perseguição. Ele chegou a perguntar se eu tinha a certeza do que estava a fazer por lhe rejeitar, eu disse que sim.”

A jornalista diz ter tido medo das consequências do seu “não”, no entanto estava disposta a ir até as últimas consequências porque ela tinha entrado pela porta de frente e só sairia de la por causa justa. “Mais uma vez com minha postura consegui respeito desse chefe assediador e dos demais colegas porque estavam acostumados a assistir mulheres a permitirem assédio sexual para permanecer no emprego.”

Segundo afirma, o assédio sexual na media é mais agressivo, mas a mulher deve provar que merece permanecer, pela qualidade do seu trabalho, pela sua capacidade profissional porque as só são respeitadas quando demonstram profissionalismo.

A antropóloga Sandra Manuel diz que o assédio sexual é uma cultura global e advém da extrema influência de duas religiões bastante patriarcais e machistas. O cristianismo e o Islamismo. Essa primeira define Eva como secundária a Adão. Ou seja, a mulher desde o início era considerada auxiliar, um ser que é infantil, menor, que serve apenas como ajudante por isso, que foi feita a partir da costela de Adão.

E isso tem impacto na forma como se constrói a sociedade porque o cristianismo é assim, o Islamismo também é, e são as duas religiões de maior presença no nosso país. Estas têm um impacto muito grande na forma da organização social, na forma como se percebe em todos lugares, ser homem e ser mulher.

“O homem  pensa  na mulher como seu acessório, alguém que não tem  uma individualidade horizontal a sua, que está numa posição inferior. A mulher é concebida para procriar, para cuidar, mesmo no casamento, essas são as funções da mulher.”

Sandra Manuel explica que a mulher só entrou no mercado de trabalho depois do homem, porque o lugar da mulher era considerado o espaço doméstico e quando entra para o mercado de trabalho entra exactamente para profissões que reproduziam a sua função de cuidar, como de enfermeira, professora ou então entrou para uma segunda dimensão que era de objecto sexual porque a mulher sempre ocupou o espaço público nessa posição de objecto sexual, era prostituta.

“Pelo facto da mulher ser vista dessa maneira, ao entrar no espaço profissional que já era ocupado pelos homens, é vista desse jeito, então mesmo que não a assediem sexualmente, desvalorizam-na, olham como aquela que deve ocupar apenas o espaço doméstico.”

A docente de antropologia na Universidade Eduardo Mondlane, concluiu, afirmando que, ainda se está a tentar desconstruir essa questão de inferiorização da mulher e fazer entender que ela é horizontal ao homem, entretanto, este é um processo que leva muito tempo porque a hierarquização do homem e mulher resulta de uma socialização que classifica a mulher como inferior ao homem. É uma batalha, é um caminho muito longo tentar desconstruir essa questão afinal, essas pessoas tiveram como exemplo seus antecessores e assistem a essa secundarização dentro das suas famílias.

“Participação da mulher em processos políticos contradiz índice de analfabetismo em Moçambique”

Nos últimos anos, tem se verificado uma participação cada vez mais massiva da mulher em processos eleitorais em Moçambique.

Segundo Alberto Ferreira, analista político e docente na Universidade Eduardo Mondlane, esta tendência demonstra uma tomada de consciência da mulher de que o destino do país depende da decisão individual e vem “contradizer o elevado número de analfabetismo que Moçambique tem”.

“Moçambique tem  neste momento mais de 60% de mulheres analfabetas, não sabem ler nem escrever. Perceber que elas podem mudar o curso da história e o destino do país é um ganho significativo para o país ”, disse Ferreia numa leitura aos dados oficiais do recenseamento eleitoral divulgados pelo STAE.

Os dados são resultado do apuramento feito até 30 de Maio do ano em curso, e mostram maior participação da mulher.

Segundo ele, apesar deste dado positivo, a sociedade moçambicana ainda é machista, com cultura tradicionalmente consolidada da descriminação da mulher. “Em Moçambique há zonas em que para ir recensear, a mulher tem que ir acompanhada da criança para se estar seguro de que efectivamente vai recensear ”, sublinhou.

Destacou ainda que diante deste cenário, a participação massiva da mulher em processos políticos significa que “ a mulher está a lutar por si só contra o machismo que se impôs ao longo do tempo”, explicou.

Para o analista, o governo deu também passos largos para garantir maior envolvimento da mulher na política. “Já não existe descriminação da mulher sob ponto de vista legal, existe sim descriminação do ponto de vista cultural e estigmático”, concluiu.

Entretanto, na visão do analista ainda há desafios para a maximização da participação da mulher em processos políticos, uma vez que, a maioria está no meio rural, onde a informação não chega a todos. “Hoje existem muitos que despertam a consciência das pessoas, mas a nossa comunicação de massas não é abrangente”, frisou.

Ferreira faz alusão a história da democracia, quando a mulher era excluída do processo eleitoral para esclarecer a importância da sua participação nestes processos. Segundo ele, naquela altura “os índices de votação eram sempre mínimos mas com a inclusão das mulheres sobretudo nos anos 70 com o feminismo começou a se fazer sentir uma grande participação nas votações”, disse.

Eleitos novos membros dos órgãos sociais do CEC

O CEC realizou, no dia 29 de Maio, a sua segunda sessão da Assembleia Geral, que tinha dentre vários assuntos agendados a apresentação do relatório financeiro das actividades da instituição referente ao período de 2017 a 2018 e a eleição de novos membros dos órgãos sociais do CEC. Para o Conselho de Direcção foi eleito Ernesto Nhanale como presidente e Francisco Nguenha e Egídio Guambe como primeiro e segundo vogais, respectivamente. Por conseguinte, Leonilda Sanveca foi eleita presidente da Mesa da Assembleia Geral, Carvalho Cumbi como primeiro vogal e Cleidy Marinela como segundo vogal.

CEC forma jornalistas das rádios comunitárias e membros da sociedade civil de Nampula em matérias de segurança para jornalistas em período eleitoral

Foto: Pedro Fumo

A formação, que reuniu 19 participantes, teve como objectivo aumentar o conhecimento dos jornalistas e líderes de opinião sobre das técnicas e estratégias de prevenção da violência, através da adopção de um discurso público que influencie a prevenção de actos de violência sem contudo renunciar a afirmação da legitimidade do valor do trabalho informativo, mesmo quando a informação difundida seja crítica, inconveniente e inoportuna aos interesses do poder estabelecido.

A capacitação acontece no actual contexto em que a liberdade de imprensa está minada em Moçambique. “Somos intimidados para não publicar certo tipo de matérias”, disse Jumito Zeferino, jornalista da Rádio Enhale, ao compartilhar a sua experiência sobre a manipulação e ameaças que os repórteres enfrentam nas rádios comunitárias em Nampula.

Foto: Pedro Fumo
Jumito Zeferino, repóter da Rádio Enhale falando dos desafios do jornalista comunitário em período eleitoral

Durante o evento, os participantes ficaram a conhecer alguns problemas centrais que acometem os jornalistas em períodos eleitorais, as causas e os respectivos  efeitos para o exercício da profissão e para a comunidade. Regina do Rosário, repórter da Rádio On’hipite,  salientou que mesmo com os riscos inerentes ao jornalismo comprometido com  verdade, o jornalista deveria ser profissional e assegurar que o cidadão esteja bem informado. “O jornalista é como um polícia, não pode deixar de fazer o seu trabalho, os riscos sempre vão existir”, realçou. Dentre vários temas abordados na formação, mereceram destaque tópicos como a ética e os aspectos chaves da media, assim como os crimes e os ilícitos em períodos eleitorais.

“Estamos a falhar, porque em nome da LIBERDADE negligenciamos a JUSTIÇA SOCIAL”

O Professor Doutor Severino Ngoenha destaca que há necessidade de se fazer um esforço por parte dos decisores políticos em relevar a questão de se capitalizar o potencial que carecterizou as duas repúblicas porque Moçambique passou. Para Ngoenha, se faz necessária uma abordagem de recuperação e aplicação das boas práticas governativas, por exemplo a ideia de se imprimir na sociedade moçambicana o que foi de grande relevo na primeira República, a Justiça Social. O académico entende que os valores inerentes a Constituição de uma sociedade justa em que se sacrificava o bem estar individual em prol do colectivo foram se perdendo com o tempo. Estamos a falhar, porque em nome da Liberdade negligenciamos a justiça social” , sublinhou o Professor Doutor Severino Ngoenha, Reitor da Universidade Técnica de Moçambique na Conferência – Aulas Abertas, organizada pela Sociedade Aberta a com participação do CEC, subordinada ao tema: CONTRIBUIÇÕES PARA 
INSTITUIÇÕES CADA VEZ MAIS FORTES, E MELHOR ORIENTADAS 
PARA O DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO E SOCIAL. 

Confira o vídeo-resumo da intervenção do Professor Doutor Severino Ngoenha na íntegra.

Anúncio de vaga para Assistente de Programas

O Centro de Estudos Inter-disciplinares de Comunicação, designado por CEC, é uma associação sem fins lucrativos, de duração indeterminada, que tem por objectivo geral dinamizar a investigação na área da comunicação social e informação, bem como promover o intercâmbio entre os profissionais de comunicação e as instituições de ensino e formação em comunicação.

O CEC esta levando a cabo um concurso de recrutamento para o preenchimento de uma vaga de Assistente de Programas, com o seguinte perfil:

  • No mínimo três (3) anos de experiência em de gestão/coordenação de projectos ou programas em organizações da sociedade civil em Moçambique;
  • Experiência no uso de computadores e pacotes de “software” de escritório (Word, Excel, etc) e conhecimento avançado de pacotes de folhas de cálculo e bases de dados e ainda experiência no manuseamento de sistemas de gestão baseados em “web”;
  • Conhecimentos e experiência de gestão baseada em resultados;
  • Domínio do contexto da Comunicação Social em Moçamique;
  • Boa capacidade de redação e comunicação oral;
  • Capacidade de negociação e de cultivo de boas relações;
  • Competência em avaliação e monitoria de resultados;
  • Conhecimento do modelo MSC- Most significative change;
  • Competência em planificação estratégica;
  • Facilidade para trabalhar em equipe, ter perfil colaborativo e criativo;
  • Flexibilidade para se adaptar a novas situações e experiência em trabalhar sob pressão;
  • Excelente comunicação oral e escrita em Português;
  • Formação superior em ciências sociais e humanas, áreas afins.

Os candidatos deverão enviar os seus CV’s, acompanhados de uma carta de motivação e duas referências, desde a data da publicação do presente anúncio até o dia 21 de Maio de 2019, para o email: info@cec.org.mz.

Liberdades Encurraladas: Um ano difícil e tímido para a Democracia em Moçambique.

“O ano de 2018 foi marcado pelo aumento da viola;’ao de liberdade de imprensa em todo o país. O início do ciclo eleitoral, as crises político-militar e económica foram os principais factores que contribuíram para minar a liberdade de imprensa. Comparativamente ao ano de 2017, o MISA registou, em 2018, um aumento dos casos reportados, de 21 para 23. Muitos dos casos são relacionados com a detenção e confiscação de equipamentos de trabalho aos jornalistas. As províncias de Maputo, Tete e Nampula foram as que maior preocupação do MISA concentraram devido a ameaças, agressões e assaltos em órgãos de comunicação social”. 

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