Migração Digital: o que acontece quando o povo não sabe?

O processo de migração digital em Moçambique está na sua fase final. Fase final, porque pelo menos em 2015, o sinal de televisão deixará de ser analógico para ser digital, com todos os benefícios inerentes.
Mas esta bonança não vem sem algumas precondições. Há já cinco anos que se sabe que daqui a uns meses haverá esta migração.

As rádios estas serão mais graduais. Mas para a televisão, que se está a tornar no meio de informação e comunicação mais poderoso, a frente das plataformas das redes sociais por enquanto, o tempo parece nos lançar para a escuridão.
Coisas estranhas acontecem num país cujo Estado deveria já ter tornado este assunto uma prioridade de governação senão vejamos:
• Os televisores baratos, analógicos ainda estão sendo importados e vendidos a preços de até 1500 meticias sem que nenhuma entidade chame atenção a precaução dos consumidores
• O Banco Mundial diz que irá subsidiar os conversores nas zoinas urbanas bem como o Estado cujo preço se situará a 2000 meticais ou pouco menos. Mas eles ainda não estão a venda em nenhum local muito menos notícia sobre eles
• O mais gritante ainda, a população continua no seu mais remoto sono, desconhecendo tudo, como se nada estivesse a espreita
O que vai acontecer no dia 17 e subsequentes será simplesmente o rápido regresso ao paleolítico. Mas isto acontecerá não sem uma dose de consequências políticas e sociais.
O governo deve junto das entidades responsáveis desdobrar-se arduamente em campanhas de informação pública, enquanto estes estiverem ainda operacionais e os receptores ainda úteis, para veicular mensagens de sensibilização. Paralelamente os direitos do consumidor devem ser salvaguardados através da informação e sensibilização dos vendedores de aparelhos receptores por forma a informar os compradores dos riscos e das consequências da migração digital e formas de mitiga-los a tempo, seja através da compra de aparelhos compatíveis seja procurando pelos conversores.

Não haverá apagão no dia 17 de Junho?

Recentemente, a Associação da Mulher na Comunicação Social – AMCS levou a cabo um debate em que se queria perceber quais seriam as implicações para os cidadãos moçambicanos que não pudessem ter um televisor moderno ou um conversor, no âmbito da migração do sinal analógico para o digital.

Na ocasião, o engenheiro Luís Loforte Luís Loforte, um dos especialistas na montagem de antenas e sistemas de funcionamento de rádio e televisão, disse que Moçambique não sofrerá nenhum apagão no dia 17 de Junho, dia determinado pela Organização Internacional das Telecomunicações para a passagem definitiva do sistema analógico para o digital. Para ele, p pelo facto de o processo ser gradual, numa primeira fase envolverá apenas a televisão. Assim, a Rádio fica ainda com algum tempo para se transformar.

Loforte disse ainda que o Banco Mundial se encarregará em subsidiar os conversores de TV para as zonas urbanas.

E para as zonas rurais? Quem as financiara?
Recorde-se que todo o processo de transição está a cargo da StarTimes, empresa chinesa com ramificações locais. A Exim Bank da China é quem irá financiar os 300 milhões de dólares para a implementação do projecto.

Entretanto, continuam nas lojas a venda unidades de televisores analógicos, alguns dos quais ao preço muito barato, sem que as pessoas sejam informadas das implicações futuras.

Descodificadores de Tv Digital vão custar 1.800 Meticais ao cidadão

O vice-presidente da Comissão Nacional para a Migração Digital em Moçambique, Simão Anguilaze, diz que os descodificadores necessários a partir do próximo ano para o sinal digital de televisão vão custar 1.800 Meticais e que o Estado não vai subsidiar a ninguém.
Está cada vez mais a ficar claro como vai funcionar o processo da migração digital no país. O vice-presidente da Comissão que está a conduzir o processo da Migração Digital em Moçambique, Simão Anguilaze, já avança com os encargos que isso vai implicar no bolso do cidadão. Só para a compra de descodificadores do sinal digital, as famílias precisam perto de 2 mil meticais.

Este ano, o Governo vai arrancar com trabalhos experimentais em todas as capitais provinciais que vão consistir na instalação de emissores digitais pilotos.
Fonte: TIM

Governo garante que Migração Digital não irá afectar as Rádios Comunitárias

O Governo, na tentativa de responder às preocupações apresentadas pelas rádios comunitárias resultantes do “secretismo e exclusão” que está a caracterizar o processo, garante que estas não serão afectadas pela migração do sistema de radiodifusão analógico para o digital. O Executivo esclarece ainda que a migração do sistema analógico para digital das rádios não é obrigatória e não tem prazos para ser concluído, tal como acontece com a televisão.

“As Rádios Comunitárias não precisam de se preocupar porque a migração que tem prazo estabelecidos é da televisão, isto porque as frequências que são usadas para o analógico são diferentes das que são usadas para a digital e isso já não acontece com a televisão, pois para esta as frequências da analógicas são as mesmas usadas para a televisão digital, por isso não pode haver coexistências dos dois sistemas dentro do mesmo diapasão”, explicou Américo Muchanga, director do Instituto Nacional de Comunicação de Moçambique que falava em representação do Governo, na conferência sobre liberdades comunicativas.

Assim, segundo a explicação de Muchanga, que é igualmente presidente da comissão encarregue de dirigir o processo de migração, as rádios comunitárias continuarão a fornecer os seus serviços com o mesmo equipamento que elas possuem agora e os seus utentes poderão igualmente receber o sinal recorrendo ao material que possuem.

Uma eventual obrigatoriedade de migração das rádios pode vir a ser imposta por motivos de natureza técnica, mas isso, no mínimo, será nos próximos 15 anos, pois pode ser que até esse período já não haja no mercado equipamento analógico disponível para substituir o que está a ser usado neste momento, garante a fonte.

No entanto, uma outra razão que poderá obrigar as rádios a migrar tem que ver a indisponibilidade do espaço nalgumas zonas, tal é o caso da cidade de Maputo, para a inclusão de mais frequências radiofónicas no espectro.

Ou seja, “se alguém pretender colocar uma nova rádio na cidade de Maputo já não existem frequências para essa rádio, então terá que implementar uma rádio digital ou então optar por outra província. Já não há espaço disponível no espectro da FM, na cidade de Maputo”, argumentou.

Cidadãos terão 20 anos para pagar conversores

Depois de concluído o processo de migração de radiodifusão do sistema analógico para o digital, a maior parte dos aparelhos de televisão actualmente na posse da maioria dos cidadãos necessitará de um conversor para garantir a recepção do sinal.

Este dispositivo, denominado set-top-box, de acordo com o representa do Ministério dos Transportes e Comunicações, Américo Muchanga, estará disponível para os cidadãos a preço de 1.200 meticais, valor a ser pagos num prazo de 20 anos.

“Os descodificadores vão estar disponíveis no mercado e serão encontrados mecanismos para que o cidadão pague esse descodificador num prazo muito longo, que é o de 20 anos. Estes mecanismos estão a ser pensados para que todas as famílias que hoje têm televisão possam continuar a beneficiar dos serviços””, explicou Muchanga.

Em Abril do corrente ano, o Governo aprovou a Estratégia de Migração de Radiodifusão Analógica Terrestre para Digital que estabelece o quadro normativo e de financiamento do processo da migração da radiodifusão analógica para digital em Moçambique, entre outros aspectos.

FORCOM estará representado na Comissão de Migração

O Fórum das Rádios Comunitárias (FORCOM) foi proposto como uma das entidades a integrar a Comissão Nacional de Migração Digital nesse seu segundo mandato que termina em 2015, mas decisão final cabe o Conselho de Ministro.

Aquela entidade, assim como outras organizações da sociedade civil, sempre reclamou da exclusão das rádios comunitárias e outros intervenientes nesse processo de migração. A Associação de Defesa do Consumidor é também uma das entidades proposta para integrar aquela comissão.

Fonte: Verdade

Migração Digital em Moçambique atrasada

Moçambique está três meses atrasado no processo de migração digital do sinal televisivo devido à indisponibilidade financeira. Banco de Exportação e Importação da China ainda não transferiu a verba acordada no processo.
Os 220 milhões de euros (cerca de 300 milhões de dólares americanos) concedidos a Moçambique para custear o processo de migração digital da televisão ainda não estão disponíveis, devido a procedimentos burocráticos exigidos pelo Exim Bank (Banco de Exportação e Importação) da China.

A demora na concessão dos fundos impede, por exemplo, a aquisição de equipamentos como conversores e a instalação da rede redundante nas capitais provinciais.
Outra atividade que está dependente da verba é a divulgação deste processo aos cidadãos, segundo Simão Anguilaze, da Comissão de Migração Digital no país, que reconhece haver ainda défice de conhecimento sobre o assunto.
“Já devíamos estar com a rede-piloto a funcionar. É importante porque será um instrumento concreto para a população poder ver realmente o que irá acontecer”, reconhece Simão Anguilaze. “Também nesta altura deveria estar encerrado completamente o dossier de financiamento.”
Fonte: DW

Sobre a Migração Digital em Moçambique

1. A migração é compulsória e calendarizada
2. Melhor experiência /qualidade/ leque de escolha do telespectador
3. Permite mais eficiente exploração do espectro radioeléctrico
4. Todo o operador deve migrar após “apagão” ou fica na ilegalidade e sujeito a interferências
5. Telespectador deve possuir conversor (STB) ou televisor digital

6. Vai ser criado um Operador (Público) de Transporte e Distribuição de Sinal
7. 300 Milhões de dólares americanos são o que vai custar aos cofres do Estado
8. A Exim Bank da China é quem irá financiar a operação
9. A Startimes, empresa chinesa é quem irá operacionalizar o processo de migração digital
10. Os conversores custarão ao cidadão moçambicano, 2 mil meticais
11. O estado não irá subsidiar os conversores
12. O governo ainda está por divulgar a estratégia da migração, faltando pouco menos de 3 meses para o apagão

O jornalismo interpretativo nos jornais semanários e os seus riscos para a qualidade da informação

Por Ernesto Nhanale

Devido às suas características, os jornais semanários têm sido caracterizados por textos do género reportagem interpretativa[1]. Este estilo de reportagem, que se verifica nas últimas décadas em muitos jornais do mundo, vem substituir o estilo descritivo no qual o trabalho principal do jornalista é relatar os acontecimentos, separando os das opiniões individuais.
Contrariamente ao estilo descritivo, no qual os repórteres procuram dar um maior espaço para que os actores das “estórias” para expressarem as suas ideias, deixando que as suas interpretações aos factos sejam feitos em espaços apropriados e claramente identificados, os artigos de opinião; no estilo interpretativo, os factos e as opiniões são misturadas, através das interpretações que os jornalistas procuram dar aos acontecimentos.

De uma forma analítica entre os dois estilos, Patterson (1997) assinala que, em muitos casos, a cobertura interpretativa é feita a partir de um processo de simplificação dos temas, agrupando vários acontecimentos e eventos de campanha dos candidatos, num quadro de enquadramentos interpretativo que os jornalistas procuram dar sobre o sucesso ou não da campanha dos candidatos[2].

Por vários factores, o estilo interpretativo configura-se como o mais predominante nas reportagens que analisamos nas edições dos jornais semanários (Savana, Domingo, Zambeze e Magazine Independente). Uma das consequências deste estilo é que o jornalista é, para além de repórter, um actor que, através das suas interpretações, procura fornecer significados aos acontecimentos que narra. E como qualquer interpretação ou opinião, há uma imensa tendência de uma cobertura não objectiva[3].
Existem diversos casos nas principais reportagens que fazem as manchetes dos jornais semanários onde os jornalistas procuram, a partir de suas próprias interpretações ou enquadramentos dar uma determinada forma a campanha dos candidatos. Podemos seguir alguns desses exemplos, nos quais sublinhamos algumas expressões que consideramos relevantes:

“Verdade seja dita, os comícios realizados pelos camaradas ao longo desta primeira semana de campanha têm muita afluência de muitas pessoas de todos estratos sociais. Para cobrir toda extensão da província, a Frelimo no namoro ao eleitorado, formou 16 brigadas, constituídas principalmente, por jovens e mulheres”. In Jornal Domingo, 07/09/14.

“Supremacia da Frelimo “ABAFA” concorrentes da cidade de Maputo. Na primeira semana da corrida eleitoral, ao nível da cidade de Maputo, foi inquestionável a supremacia do partido Frelimo que pela primeira vez, tem como concorrentes directos o MDM (Movimento Democrático de Moçambique) e a Renamo”. In Jornal Domingo, 07/09/14
”… por detrás de um caloiro há sempre um grande mestre que toca batuque para encobrir a inexperiência do seu caloiro”, Jornal Zambeze, 04/08/2014.

“Fazendo o aproveitamento da recém terminado conflito político militar opondo as Forças de Defesa e Segurança e os guerrilheiros da Renamo, Daviz Simango afirmou que votar conscientemente significa confiar em partidos políticos civis comprometidas com valores da paz, justiça social, económica e desenvolvimento do pais em vários domínios. In Zambeze, 04/08/2014

“Outro aspecto que marca a presente campanha é a diferença de meios materiais entre os concorrentes. A Frelimo em algumas circunstâncias recorre ao estado“ (….)Vários quadros históricos da Frelimo estão empenhados na caça ao voto, o que segundo alguns analistas, indicia que o partido que forma o governo não está seguro do que pode acontecer a 15 de Outubro”. In Savana, 05/09/14

As interpretações feitas pelos jornalistas aos eventos ou às actividades de campanha dos candidatos tendem a produzir avaliações negativas ou positivas sobre o curso da campanha, conforme se pode verificar nas frases sublinhadas. Trata-se de um tipo de cobertura que, logo a partida, condiciona as percepções do público sobre o que é reportado. 

Um dos problemas destas práticas, como argumenta Thomas Patterson (1997), resulta do facto de o jornalista pretender substituir os políticos, transformando-se ele próprio num actor da campanha. Trata-se de uma tendência, não só do nosso jornalismo (como acima o dissemos), que possui implicações negativas na qualidade da informação produzida sobre a campanha eleitoral.
Embora seja uma amostra muito pequena (uma semana da campanha), pode-se notar uma tendência de os jornalistas, nas suas interpretações, produzirem enquadramentos favoráveis ou desfavoráveis aos candidatos, em vez de uma cobertura objectiva e mais baseada no relato dos eventos e actividades dos candidatos. Nota-se ainda, por um lado, o interesse dos jornais em produzir enquadramentos baseados na exaltação das características dos candidatos, uns em relação aos outros; por outro lado, a tentativa de criar cenários dramáticos, nos quais ilustram-se as posições de concorrência entre os candidatos.

[1] O estilo interpretativo assemelha-se às reportagens chamadas analíticas.
[2] Patterson, Thomas E. 1997. “The News Media: An Effective Political Actor?” Political Communication 14:445-455
[3] Definições mais específicas sobre a cobertura não objectiva podem ser encontradas no artigo publicado na edição passada com o título “O partidarismo na cobertura eleitoral. O caso do jornal notícias”, disponível  aqui!

Panorama geral da distribuição da cobertura pelos partidos políticos e candidatos

Análise da primeira semana da cobertura dos media na campanha eleitoral
Ao longo da primeira semana da campanha eleitoral, a análise de conteúdo da cobertura dos media foi realizada em três jornais diários (Notícias, Diário de Moçambique e Opais), nos quatro jornais semanários (Savana, Zambeze, Domingo e Magazine Independente) e num meio de radiodifusão, a Rádio Moçambique. A análise consistiu na avaliação do número de peças assim como ao espaço dedicado aos 30 partidos políticos[1] concorrentes às eleições legislativas e provinciais, assim como aos três candidatos às eleições presidenciais (Afonso Dhlakama, Filipe Nyusi e Daviz
Simango).

Usando a presença do partido ou candidato no título do artigo, como critério de selecção do artigo, foram recolhidos 440 artigos noticiosos publicados nos oito meios de comunicação social analisados. Para o caso dos meios de radiodifusão (Rádio Moçambique) e alguns jornais como o Notícias, com espaços definidos para a cobertura eleitoral, a busca dos artigos foi realizada a partir desses espaços, identificando os que se referem aos partidos políticos e aos seus candidatos.

Tabela 1 – Distribuição da cobertura dos media pelos partidos políticos na primeira semana da campanha eleitoral de 2014.

 

 

 

 

Conforme a tabela 1, contendo a distribuição de frequência dos artigos publicados pelos meios, a Rádio Moçambique é o meio com a maior cobertura (202), seguido dos diários Opais (92), Notícias (59), Diário de Moçambique. Os jornais semanários, pela periodicidade, apresentam o menor número de artigos publicados, circulando entre os cinco (Savana) a 14 (Domingo), artigos publicados sobre as actividades de campanha dos partidos políticos.
Refira-se que estes dados não correspondem ao número de peças/artigos publicados, mas sim ao número de vezes ou espaço em que cada partido ou candidato é reportado no meio. Isto é, existem peças de reportagem que são dedicadas a dois ou mais partidos políticos, estas peças são multiplicadas pelo número de partidos políticos representados, sendo analisado o tempo dedicado a cada um dos partidos políticos. Este facto ocorre também para os jornais semanários que, em muitos casos, reportam, numa única peça, actividades de campanha de dois ou mais partidos políticos/candidatos.
Nesta primeira semana da campanha, nota-se a tendência de uma maior cobertura para as actividades do partido Frelimo (196), seguido do MDM (122) e da Renamo (110)[2] . Em termos dos meios, pode-se verificar esta tendência na RM, Notícias, Diário, Domingo, Opais. Quanto aos semanários, embora com poucos artigos, nota-se uma tendência diferente, a Frelimo com 1 artigo no Savana, comparado com os outros com 2, o Zambeze com 2 artigos para cada um dos partidos.
De uma forma geral, estes são os dados mais relevantes da distribuição quantitativa da cobertura dos candidatos nas eleições. Considerando que, semanalmente, para além das análises quantitativas trazemos alguns comentários e interpretações aos dados, baseando numa das variáveis e em alguns meios seleccionados, esta semana iremos dissertar sobre o tipo e a qualidade da cobertura oferecida pelos jornais semanários.

[1] Concorrem para estas eleições, os seguintes partidos políticos: MDM – Partido Movimento Democrático de Moçambique; RENAMO – Partido Resistência Nacional Moçambicana; FRELIMO – Partido FRELIMO; ALIMO – Partido Aliança Independente de Moçambique; PASOMO – Partido de Ampliação Social de Moçambique; MJRD – Partido Movimento da Juventude para Restauração da Democracia; PIMO – Partido Independente de Moçambique; UASP – Partido União Africana para Salvação do Povo de Moçambique; PLD – Partido de Liberdade e Desenvolvimento; PPD – Partido Popular Democrático de Moçambique; SOL – Partido Social Liberal e Democrático; PAHUMO – Partido Humanitário de Moçambique; PARESO – Partido de Renovação Social; PUMILD – Partido Unido de Moçambique da Liberdade Democrática; PEC-MT – Partido Ecologista Movimento da Terra; PAZS – Partido de Solidariedade e Liberdade; PVM – Partido, os Verdes de Moçambique; MONARUMO – Partido Movimento Nacional para Recuperação da Unidade Moçambicana; PDD/AD – Partido para Paz, Democracia e Desenvolvimento/Aliança Democrática; PARENA – Partido de Reconciliação Nacional; P.P.P.M – Partido do Progresso do Povo de Moçambique; UM – Partido de União para Mudança; JPC – Grupo de Cidadãos Eleitores Associação Juntos pela Cidade; PRDS – Partido de Reconciliação Democrática Social; PT – Partido Trabalhista; PANAOC – Partido Nacional de Operários e Camponeses; MPD – Partido Movimento Patriótico para a Democracia; UE – Coligação de Partidos Políticos União Eleitoral; PASDI – Partido Social Democrata Independente; PUR – Partido da União para a Reconciliação

[2] É preciso notar que a campanha da Renamo iniciou com a ausência do seu candidato, enquanto decorriam as negociações e os preparativos para a sua vinda na assinatura dos acordos de fim do conflito militar que se registou no país. Este dado pode ser importante para compreender de forma relativa a quantidade de cobertura oferecida para a Renamo, uma vez, o seu actor principal ter estado ausente nesta primeira semana da campanha eleitoral.

Debates Eleitorais, Acesso a Informação e as oportunidades perdidas (ou por perder)

Egídio G. Vaz Raposo

Os debates eleitorais se fossem radiodifundidos ajudaria sobremaneira a aumentar a consciência cognitiva dos cidadãos pelo menos para efeitos destas eleições, na medida em que estes teriam uma ideia geral e comparada dos manifestos e dos projectos de cada um dito por eles próprios

A semana que passou ficou marcada por um debate intenso ocorrido na esfera pública (tv, jornais, rádio e redes sociais) sobre a necessidade ou não de um ou uma série de debates eleitorais em que os três candidatos a presidência iriam confrontar as suas ideias e visões sobre o país.

Gostaríamos de sugerir que estes debates de facto devem acontecer por uma série de razões que de passo passamos a mencionar.

1. Os debates eleitorais aumentariam a consciência cognitiva dos moçambicanos
Somos uma sociedade de baixa informação tal como nota o estudo de Carlos Shenga e Robert Mattes: “Cidadania acrítica numa sociedade de baixa informação: os moçambicanos numa perspectiva comparativa”. Em Moçambique, apenas um em cada cinco moçambicanos é que é capaz de dizer quantos mandatos é que o Presidente pode cumprir (dois mandatos). Nas zonas rurais, esta cifra cai para os 16%. Mais grave, o Presidente Guebuza vai a reforma com apenas 20% da população moçambicana a conhecer-lhe pelo seu nome completo! Em termos de consciência cognitiva (quantidade de informação que as pessoas possuem sobre política e democracia; sua exposição à informação através de fontes típicas tais como a rádio, a televisão e órgãos de informação impressos ou através de fontes alternativas, tais como amigos e vizinhos etc.) o mesmo estudo indica que os nossos índices são baixos: apenas 13% dos moçambicanos lêem regularmente jornais; 8% todos os dias e 5% algumas vezes por semana; 16% dos moçambicanos assiste programas noticiosos de televisão todos os dias e 8% algumas vezes por semana. Aproximadamente apenas 40% da população moçambicana tem interesse na política. Este todo intróito era para dizer que os debates eleitorais se fossem radiodifundidos ajudariam sobremaneira a aumentar a consciência cognitiva dos cidadãos pelo menos para efeitos destas eleições, na medida em que estes teriam uma ideia geral e comparada dos manifestos e dos projectos de cada um dito por eles próprios.

2. Os debates eleitorais aumentariam a audiência
Na verdade, um debate eleitoral a três colocaria muitos moçambicanos colados aos receptores do que qualquer outra actividade política nesta campanha. Em termos de audiência, um debate eleitoral a três colocaria quase todos moçambicanos ligados seja a rádio, seja a tv e se informariam directamente e de forma critica sobre os manifestos, planos e prioridades de cada um dos candidatos, sem intermediários.

3. Os debates eleitorais reforçam a identificação partidária dos eleitores
Ao contrário do que se teme, estudos mostram que os debates eleitorais fortalecem a ligação dos partidários com seu candidato independentemente do que se pode concluir (vitória ou derrota no tal debate). Em “Political Campaign communication. Principles and practices”, Judith Trent e Robert Friedenberg argumentam que os debates eleitorais reforçam as convicções políticas dos eleitores em relação às suas opções ou candidatos. Pelo que, teoricamente, não há motivo para temer um debate eleitoral a três.

4. Os debates eleitorais activam indecisos e ajuda a clarificar as mensagens
Os debates eleitorais são igualmente um momento em que os candidatos aproveitam o ensejo para justificar ou clarificar alguns equívocos, desvios de interpretação bem como activar os indecisos e absentistas. Num momento em que os moçambicanos se debatem com baixos índices de votação, os debates eleitorais poderia ajudar na elevação dos níveis de interesse e de confiança dos votantes para com estas eleições.

5. Os debates eleitorais ajudam na definição da agenda dos votantes
Os manifestos eleitorais feitos pelos três partidos não tiveram uma ampla participação e envolvimento dos cidadãos, como podia se esperar. Três semanas depois do início da campanha, os próprios candidatos aperceberam –se de alguns aspectos mais salientes, outros minimizados em suas agendas e ainda outros mal abordados. As verdadeiras prioridades dos cidadãos vêm a tona à medida que os candidatos se fazem ao campo. Os debates eleitorais são um momento único em que finalmente os assuntos do povo são discutidos e analisados na perspectiva de governação.

6. Os debates eleitorais aumentam os níveis de conhecimento do eleitorado sobre os assuntos pertinentes
Tal como referenciado no ponto 1, somos uma sociedade de baixa informação, praticamente com muito pouco acesso a informação política de qualidade. Ouvir directamente dos candidatos e de forma cruzada os seus manifestos aumenta sobremaneira os níveis do conhecimento dos cidadãos sobre temáticas políticas.

7. Os debates eleitorais modificam a imagem dos candidatos. Pior do que está não sai
Isso mesmo. Os debates eleitorais só podem melhorar a imagem de um candidato. Pior do que está não é possível. Os políticos, ao se fazerem ao debate têm a nobre missão de convencer o eleitorado sobre três aspectos concretos
a) a sua aptidão para o cargo
b) a sua prontidão para assumir o cargo
c) a sua competência técnica e a exequibilidade do seu programa para o bem maior.
Assim, candidatos menos conhecidos têm maiores possibilidades de solidificar a sua imagem junto dos públicos e potenciais eleitores. Existem porém uma proporcionalidade inversa entre a participação nos debates eleitorais e o melhoramento da imagem dos candidatos. Candidatos mais conhecidos raramente vêm sua imagem alterada com o debate ao passo que candidatos menos conhecidos usam destes debates para finalmente solidificar a sua imagem.

8. Os debates eleitorais fortalecem a democracia e satisfazem os cidadãos
O princípio popular segundo o qual os políticos governantes são nossos servidores fortalece-se quando candidatos são expostos ao escrutínio cruzado e público, mediado pelos órgãos de informação. Por estas razões todas, somos de opinião de que os debates são sim prementes e deviam acontecer.

A Construção discursiva das mensagens mediáticas em torno dos candidatos presidenciais

Constantino Luciano Gemusse

Somos da opinião de que em processos eleitorais, a cobertura jornalista deve ser neutra; o jornalista deve procurar construir um discurso equilibrado sempre que possível, despir-se das suas marcas ideológicas para que não entre em conflito com a verdade e a objectividade da narrativa, garantindo assim a pluralidade e diversidade da cobertura jornalística.
As narrativas são dispositivos argumentativos que utilizamos em nossos jogos de linguagem. As narrativas jornalísticas constituem as estratégias organizadoras do discurso jornalístico. Ajuda-nos a compreender a lógica da construção do discurso e dos significados através da reconfiguração do acontecimento jornalístico, seus conflitos, episódios funcionais, personagens, estratégias de objectivação (efeitos de real) e subjectivação (efeitos poéticos) e do “contrato cognitivo” entre jornalistas e audiência.

De acordo com que nos propusemos a discutir e suportando-se nos pressupostos acima referenciados, depreendemos que tanto a media privada assim como a pública, têm uma tendência quase uniforme em construir uma narrativa discursiva com significado manifesto (aparente) sobre objecto (candidato) da Frelimo, expondo tendências e interesses conflituantes. Para além da espectacularização do discurso, denota-se também que há tendência de se construir um discurso simbólico e monossêmico (abertos à poucas interpretações) da parte dos eleitores. E em última analise, tende a construir um discurso visceralmente dominante que tenta-se promover a imagem do candidato da Frelimo de forma ostensivamente positiva.

Contrariamente aos candidatos do partido MDM e da Renamo, o discurso jornalístico tende a tomar um pendor ambíguo, implícito e latente (oculto) sobre os objectos (candidatos), ou seja, os jornalistas não exploram os manifestos e discursos dos candidatos devidamente e também pode-se constatar nas suas narrativas discursivas a questão de vitimização e os alguns constrangimentos decorrentes da campanha e a situação tende acentuar-se na TVM, onde a lógica narrativa do discurso tende a construir sentidos de rotularização, vulgarização, ridicularização dos partidos da oposição mesclados de conflitos e violência, como por exemplo, o foco que a media dá às deserções e as filiações dos militantes dos partidos da oposição à favor do partido Frelimo e o contrário, não acontece. De forma generalizada, tende-se a construir um discurso polissémico (abrindo a múltiplas interpretações e construção de sentido) sobre as imagens dos candidatos e seus partidos no eleitor.

No nosso entender, julgamos que a cobertura jornalista nos processos eleitorais, particularmente em campanhas eleitorais, deve ser neutra, o jornalista deve procurar construir um discurso equilibrado procurando sempre que possível, despir-se das marcas ideológicas no seu discurso para que não entre em conflito com a verdade e a objectividade da narrativa, garantindo assim a pluralidade e diversidade da cobertura jornalística

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